Anos 60

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    Na década de 60, a sociedade portuguesa, considerada no seu conjunto, mantinha-se afastada dos circuitos internacionais de produção e circulação artística, privada do acesso a exposições e iniciativas susceptíveis de dar à opinião pública uma formação artística básica e de fornecer ao público especializado uma informação actualizada e uma experiência directa da contemporaneidade.

    Abandonar o país, de forma temporária ou permanente, em consonância com o massivo fluxo de emigração registado durante este período, foi a opção tomada por diversos artistas, quer por razões políticas quer motivados pela busca de uma carreira ou de contacto com novas tendências inacessíveis dentro das fronteiras nacionais. 

    O esforço de renovação abriu caminho a uma aproximação à arte internacional, em grande parte devido aos artistas que emigravam e ao programa de bolsas da recém-criada Fundação Calouste Gulbenkian, mas também devido ao novo modo de encarar o fenómeno artístico, às grandes exposições colectivas (a inaugurar a década, em 1961, a II Exposição de Artes Plásticas na Fundação Gulbenkian) e à abertura de novas galerias que vieram dinamizar o mercado nacional.

Durante a primeira metade da década apenas a Galeria do Diário de Notícias (Lisboa), a Divulgação (Lisboa e Porto, dirigida por Fernando Pernes), ou ainda na cidade do Porto a Alvarez e a associação de artistas Árvore tinham, timidamente, dado os primeiros passos no comércio de artes plásticas. Só em 1964, com a experiência das galerias-livraria, como a Buchholz e a Galeria III, e depois com o aparecimento de novas galerias já na viragem da década, o novo mercado de arte viria dar um incentivo à prática artística.

    Os anos 1960-70 são marcados por uma crise internacional na arte. As tradicionais formulações da pintura se encontram aparentemente esgotadas, tendo sido experimentadas todas as formas imagináveis de figuração e de abstração. O significado da própria linguagem pictórica é posto causa pelo surgimento da arte conceptual, que buscava uma dissolução de fronteiras entre as tradicionais categorias artísticas - pintura, escultura, dança, teatro, etc - e a criação de uma nova forma de pensar o diálogo com o espectador, exigindo-lhe uma participação mais activa no processo criativo e contemplativo. Surgem as performances, a Body art, a Arte cinética, as instalações, e a pintura migra para novos suportes, assimila novos materiais, desmaterializa-se, redefine o carácter da representação e deixa de ter um destaque especial entre as artes, fundindo-se num novo conceito de "arte total" onde a palavra e a ideia - o conceito - passam ao primeiro plano de importância. A quebra de parâmetros e o experimentalismo tornam-se a regra e a cultura começa a massificar-se. Em Portugal a fase é de contradições entre os resíduos do Modernismo e do Naturalismo e a necessidade urgente de renovação, urgência em parte sufocada pelo início da Guerra Colonial, o distanciamento das movimentações internacionais de 1968 e a continuidade do Estado Novo após a morte de Salazar, e uma mudança efectiva, num clima de liberdade de expressão genuína, teria de esperar pelo restabelecimento da plena democracia. Mesmo assim a pintura como género autónomo resiste à pesada crítica levantada pelos conceituais contra os meios tradicionais e começa a mostrar a influência da Arte Pop, do Minimalismo e da Op art.

    Estilos artísticos encontrados em Portugal na década de 60:
·         Neoclassicismo
·         Romantismo - Neogótico, Estilo neomanuelino, Neo-árabe
·         Naturalismo
·         Arquitectura do ferro
·         Arte nova e Art déco
·         Modernismo e Arte do Estado Novo

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Pintura

    O Nouveau Réalisme e a Pop Art seriam assimilados pela Nova Figuração, configurando uma pulsão narrativa e crítica da realidade política. Os seus desenvolvimentos integraram linguagens gráficas e novos materiais industriais, todavia o contexto sociocultural português era ainda o de uma pré-modernidade, o que limitava o fascínio pelos novos códigos do consumo e dirigia a atenção de artistas para a própria condição existencial. Por seu lado, a Op Art e a pintura sistémica, desenvolveram pesquisas sobre a percepção ou a objectualidade do motivo e deram continuidade ao movimento moderno, que a história de arte portuguesa conhecera de forma episódica.
    A modernidade, quase sempre longínqua, no momento em que conhecia o fim da relação entre vanguarda e emancipação generalizava-se nas práticas artísticas portuguesas.


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Literatura

    A produção literária portuguesa não está muito longe das correntes vanguardistas e surrealistas que corriam la por fora. 
    O novea roman, que pretere a intriga em prol das descrições de objectos, reflexões filosóficas e divagações de estados de alma, chega pela mão de Arthur Portela Filho, Alfredo Margarido e Almeida Faria.
    No panorama poético, a poesia experimental, vanguardista e surrealista, surge nas obras de Ernesto de Melo e Castro, Herberto Hélder e Mário Cesariny. Ou ainda através dos jovens poetas divulgados pela efémera revista poesia 61, como Casimiro de Brito e Maria Teresa Horta.
    Fruto destas influências, José Cardoso Pires, com o seu romance de ficção pós-modernista O Delfim lançado em 1968, é um dos grandes nomes da década de 60. Outros nomes de relevo da época são Urbano Tavares Rodrigues, José Régio – que em 1966 recebe o Prémio Diário de Notícias -, Miguel Torga e Aquilino Ribeiro, estes dois últimos viram os seus nomes apresentados para o Prémio Nobel a Literatura no início da década. 

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Arquitectura

As obras de Álvaro Siza Vieira, Jorge Ferreira Chaves, Manuel Taínha, Fernando Távora, Eduardo Souto Moura, Nuno Teotónio Pereira, entre outros, surgem como referência da arquitectura contemporânea da década de sessenta

Nos anos 60, pela primeira vez num longo período histórico, a arquitectura realizada em Portugal ganha destaque na crítica internacional pela sua originalidade e autenticidade. Esta originalidade pontua-se pela adição de um novo elemento ao racionalismo do Movimento Moderno - que propõe um esquematismo estandardizado não suficientemente sensível à cultura e ao local onde os projectos são desenvolvidos. Este novo elemento caracteriza-se pela contextualização da obra no seu habitat (tendo em conta a cultura, os hábitos, as tecnologias e os materiais envolventes).